O autor que me surpreendeu em 2022

Existem diversas formas de conhecer e gostar da literatura policial. Alguns procuram estudar sobre as origens do gênero e entram em discussões acaloradas sobre histórias que antecederam Edgar Allan Poe em X anos. Outros tentam estabelecer o que realmente é literatura policial e o que não é literatura policial. É possível história sem crime ser chamada de literatura policial? O sobrenatural pode aparecer em histórias desse gênero? Otto Penzler fala, com certo humor, desses dois tipos de fãs do gênero em uma de suas antologias.

A minha atividade preferida em toda a literatura policial é pesquisar por autores que não conheço e que possuem um estilo um pouco parecido com o que gosto de ler. Foi assim que descobri sobre Ellery Queen, sobre John Dickson Carr e dezenas de outros autores do gênero. Essa atividade possui um gostinho ainda mais especial no Brasil pois dá uma sensação de estar descobrindo algo novo, da mesma forma que um arqueólogo a la Indiana Jones se sentiria ao descobrir uma relíquia antiga em um templo abandonado.

É óbvio que quando conhecemos novos rostos acabamos criando mais afinidade com alguns escritores. Foi exatamente isso que aconteceu comigo em 2022. Estou falando de Edward D. Hoch.

Hoch é, ou deveria ser, leitura obrigatória de todos os escritores de literatura policial que escrevem contos. O motivo é bem simples: ele detém o recorde de ter escrito “apenas” NOVECENTOS E CINQUENTA contos (variando entre diversos gêneros). Sabe o que é mais chocante? Ele apareceu em revistas de mistério brasileiras em mais de 100 ocasiões. Isso sem contar que ele venceu o Edgar Award em 1968 com The Oblong Room, ganhou dois prêmios Anthony (em 1998 e 2001), além de ter vencido o Grand Master Award e diversos outros prêmios do gênero. Como se isso tudo já não fosse o suficiente é preciso lembrar que Hoch teve histórias publicadas em TODAS as edições da EQMM entre 1973 e 2008 (e o recorde só foi quebrado pois Hoch faleceu no início daquele ano).

O mais impressionante disso tudo é que as histórias de Ed Hoch são boas! Tive a oportunidade de ler Diagnosis: Impossible – The Problems of Dr. Sam Hawthorne, lançado pela Crippen & Landru, e fiquei chocado como os contos são bem escritos e os personagens são carismáticos! Existem cerca de setenta contos com Sam e devo avisar que aqui há uma passagem de tempo lógica. Sam fica mais velho, relembra casos anteriores e personagens voltam a aparecer em suas histórias. Os casos investigados aqui são situações impossíveis que desafiam o raciocínio lógico. Estou agora mesmo me perguntando se Edward D. Hoch assistia Monk e o que ele achava da série, visto que o programa seguia uma linha similar.

É realmente assustador perceber que li cerca de 2% de tudo que ele produziu. Há ainda uns cinquenta contos com Sam Hawthorne para ler e existem inúmeros outros personagens criados por Ed Hoch para conhecer: Simon Ark, Nick Velvet, Leopold Way etc. Eu realmente acredito que todos nós somos um universo próprio, especialmente no campo das ideias. Edward D. Hoch não apenas era um universo único como mostrava estar em constante expansão, criando sempre métodos incríveis de mistérios em salas trancadas e de situações impossíveis. Acho até estranho que Hoch não seja apontado como uma espécie de sucessor de John Dickson Carr (no meu coração ele é, ok?).

Agradeço publicamente Art Taylor por ter citado Hoch em uma de suas palestras sobre a arte de escrever contos e também a Steve Steinbock, que foi muito atencioso em me mostrar parte do escritório de Ed Hoch, além de ter me incentivado a buscar mais sobre esse autor incrível. Sério, vai na Amazon e pega os livros dele que estão disponíveis no Kindle Unlimited. Pretendo, em outra oportunidade, criar uma linha do tempo com os contos de Sam Hawthorne e também com a ordem de lançamento de cada conto.

Bons mistérios pra vocês!

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